Em tempos de revelação da investigação que
constatou a existência de planos para a implementação de golpe de
estado pelos derrotados na eleição presidencial de 2022, justamente
os que sempre levantaram dúvidas infundadas sobre o nosso sistema de
votação, mas que reconheciam, em privado, conforme demonstrou a
investigação, não haverem encontrado quaisquer indícios a balizar
as suas tresloucadas falácias, poucos se lembram de outras
tentativas frustradas de golpe perpetradas, muitas com a
participação, interferência ou colaboração dos militares
brasileiros.
A Lei da Anistia
possibilitou o retorno dos exilados políticos ao Brasil, destes
Leonel Brizola era o que mais causava preocupação a cúpula da
ditadura.
Ex- governador do
Rio Grande do Sul, ex-deputado pela Guanabara, cunhado do
ex-presidente Jango e reconhecido sempre por sua combatividade e
resistência frente ao reacionarismo de setores brasileiros, Brizola
era, então, o líder que os militarem temiam e a ameaça que
colocaram como alvo a ser combatido.
As eleições de
1982, as maiores até então, num cenário em que a ditadura não
conseguia mais se sustentar e o seu partido oficial, o PDS, sucessor
da vetusta Arena, foi marcada por tentativas de dificultar a
articulação da oposição ao regime.
A mais marcante foi
o estabelecimento do voto vinculado, pelo qual os eleitores só
podiam votar em candidatos do mesmo partido para todos os cargos, o
que, se não fosse respeitado, levava a nulidade de todos os votos.
Lembrando que
estavam em disputa os cargos de governador, senador, deputado federal
e estadual, prefeito e vereador.
A eleição ocorreu
em cédulas de papel, contagem manual, com a elaboração dos
chamados “mapas de votação”, com os resultados registrados em
impresso próprio preenchido manualmente, mas a totalização foi
realizada de forma informatizada.
Em razão da então
incapacidade técnica própria da Justiça Eleitoral, todos os
Tribunais Regionais Eleitorais realizaram a contratação da empresa
pública serpro para
a totalização, a exceção do Rio de Janeiro, que optou por
contratar a desconhecida empresa provada Proconsult-Racimec,
pertencente a ex oficiais da área de informação do exército
brasileiro.
A empresa implantou
seus sistemas de totalização com o que então se chamou de “Fator
Delta”, que contava com a ocorrência de alto percentual de votos
nulos e brancos, decorrentes das dificuldades de população de
classes mais baixas com o sistema eleitoral adotado, e pretendia
transformar esses votos, no processamento dos resultados, em votos
favoráveis ao candidato do situacionista PDS.
A pesquisa de boca
de urna do ibope dava
vitória a Brizola, pela margem de 5%.
A apuração
paralela realizada pela Rádio Jornal do Brasil também previa a
vitória de Leonel Brizola, mas a totalização dos votos no Rio se
arrastava lentamente, diferentemente dos demais estados, e mostrava
resultados parciais favoráveis a Moreira Franco (PDS).
Com base em
informações que lhe chegavam e nos dados do Jornal do Brasil,
Brizola resolve denunciar o esquema publicamente, merecendo,
inclusive, destaque na TV Globo RJ, que, também, em seu esquema de
apuração paralela, registrara sua vitória provável.
A Justiça
Eleitoral solicita a abertura de inquérito à Polícia Federal, bem
como auditoria pelo serpro,
que registra inconsistências.
Houve registros de
tentativa de interferência do General Newton Cruz junto ao
então pgr, contra
as investigações e críticas do Ministério Público,
principalmente contra o hoje extinto Serviço Nacional de Informações
– sni, cujas
atribuições, atualmente, cabem a abin.
Tudo
isso levou a necessidade da reformulação do sistema, sendo o
resultado oficializado quase um mês após a eleição, com
o tre-rj dando
como vitorioso para o governo do Rio o candidato Leonel Brizola.
Hoje
nossa urna eletrônica e seus sistemas de votação e totalização,
desenvolvidos pela própria Justiça Eleitoral, são reconhecidos
internacionalmente por sua segurança e confiabilidade, tendo várias
ferramentas de auditoria, as quais são realizadas publicamente e de
forma rotineira.
Mas,
infelizmente, muitos preferem não reconhecer a prevalência da
vontade popular e ainda questionam o sistema de votação, somente
quando derrotados. E, pior, ainda se aventuram em artimanhas
golpistas, as quais devem ser sempre rechaçadas, com a aplicação
das penalidades legais.